quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Associação de Estudantes



A Associação de Estudantes da Escola Básica e Secundária de Mora tomou posse, em sessão solene, no gabinete do Diretor no dia 5 de Novembro de 2013.













terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O megalitismo de Pavia – o encanto das pedras


Anta da Ordem, Cabeção 

Dando continuidade ao trabalho que tem vindo a concretizar-se neste espaço – e cujo objetivo é muito simplesmente o de divulgar autores e trabalhos relacionados com a História e a realidade atual da comunidade em que nos inserimos – cabe agora coligir algumas notas sobre um fenómeno significativo da pré-História portuguesa e mesmo europeia, conhecido pela designação de “megalitismo de Pavia”, que tem merecido a atenção de especialistas da arqueologia desde os finais do século XIX até aos nossos dias. Com efeito, investigadores como Leite de Vasconcelos, Matos Silva, Pereira da Costa, Emile Cartailhac, Nery  Delgado, Carlos Ribeiro, entre outros, realizaram trabalhos arqueológicos na área de Pavia, de forma mais ou menos sistematizada, muitos dos quais nem chegaram a ser publicados. É, no entanto, na segunda década do século XX que o megalitismo de Pavia merece a atenção de um investigador, Vergílio Correia, que efetuou na região, entre 1914 e 1918, um trabalho de campo pioneiro e assinalável, cientificamente criterioso, tendo escavado, classificado e registado diversos monumentos megalíticos, povoados e santuários, publicando os resultados do seu trabalho em Espanhol, o que deu ao megalitismo de Pavia uma projeção internacional de que ainda hoje goza nos meios académicos. Nas décadas subsequentes, os trabalhos de Vergílio Correia foram retomados e aprofundados por Manuel Heleno, pelo casal alemão Georg e Vera  Leisner (1956/1959), e por Irisalva Moita (1956) 1*. Mas é nos últimos vinte anos que, graças aos trabalhos de investigadores como Manuel Calado, Leonor Rocha, Pedro Alvim, Emmanuel Mens e Rui Mataloto, que os estudos arqueológicos sobre o megalitismo de Pavia têm progredido de forma sistemática, técnica e científica, numa perspetiva de integração do fenómeno a nível regional e trazendo a lume hipóteses interpretativas de grande interesse científico.

A primeira referência ao fenómeno que nos ocupa data já do século XVII (1625) e consta de um texto de Severim de Faria, recolhido por Leite de Vasconcelos e citado por Leonor Rocha 2*, no qual se fala da anta de S. Dinis (ou S. Dionísio) nos seguintes termos: « (...) se vê hoje huã lapa feita por natureza, e aperfeiçoada por arte, que he ermida de Sam Denis, santo que uenera muito aquelle povo pellas grandes m(ercê)s que delle alcansa principalmente nos enfermos de maleitas: ha tradição entre os naturaes que naquella coua aparecera huã imagem do santo (...) ». Trata-se, portanto, de uma espécie de “reorientação do sagrado” ou seja, uma “cristianização” daquele espaço, cuja sacralização remonta ao neolítico.

Anta de Pavia (Anta de S. Dinis ou S. Dionísio)

Vergílio Correia divide o fenómeno megalítico paviense em três categorias: “lugares de habitação”, “lugares de sepultura” e “lugares de religião”. «Aos locais ”de culto” correspondem, nesta perspetiva, os recintos formados por blocos graníticos e os abrigos naturais ou ainda rochas cuja erosão provocou formas mais ou menos sugestivas. Completamente ignorados por ele ficaram os menires e ”cromeleques”, relativamente bem representados nesta área e que só muito mais tarde viriam a ser identificados» 3*. Embora, numa perspetiva atual, os solos da região não possuam um elevado nível de aptidão para a agricultura, característica determinante na fixação de sociedades agrárias como as do neolítico, face à abundância de vestígios encontrados, nomeadamente “mós”, “percutores”, “machados” e “enxós”, «pode-se supor que, na pré-história, em função das tecnologias disponíveis e dos modos de utilização do solo, existiu uma atividade agrícola relativamente intensa. Por outro lado, as manchas de matagais em áreas mais declivosas, junto às ribeiras, favorecem as práticas da pastorícia e da caça» 4*. Assinala-se, pois, um conjunto de características naturais suscetíveis de favorecerem a fixação de populações pré-históricas, em estreita relação com os cursos de água e respetivos vales. Com efeito, «As antas e sepulturas megalíticas distribuem-se ao longo das duas margens das principais ribeiras da área, verificando-se as maiores concentrações nas ribeiras do Almadafe, da Tera e do Divor» 5*. Embora os vestígios encontrados na área de Pavia correspondam de uma forma marcante aos períodos do neolítico médio e final, para os quais, dada a quantidade de instrumentos de pedra polida e mesmo de cerâmica encontrados nas escavações até agora realizadas, é possível supor um nível bastante elevado de ocupação humana, há igualmente registos da presença humana em idades subsequentes como sejam o calcolítico e a idade do ferro. No que diz respeito à idade do cobre (calcolítico), já escavado por Vergílio Correia, encontra-se a 1.200 m. a norte de Pavia «o único povoado fortificado (Castelo de Pavia,» 6* que se encontra «num esporão sobre a ribeira de Tera, num ponto que não é topograficamente dominante, muito embora a defensabilidade natural seja elevada» 7*. A descoberta no local de «centenas de pesos de tear «indicia, para este local, a existência de uma intensa atividade de produção de tecidos, para consumo local ou mesmo, eventualmente, tendo em vista a sua ”exportação” para outras áreas» 8*. No entanto, a dinâmica aqui verificada não tem prolongamento nas idades subsequentes correspondentes aos períodos do bronze e do ferro,  em relação aos quais se regista uma surpreendente quebra nos testemunhos respeitantes à atividade humana. São muito raros ou mesmo inexistentes os vestígios encontrados respeitantes a estes períodos, o que leva Leonor Rocha a formular, como hipóteses interpretativas para tal fenómeno, a existência de um «declínio populacional à escala regional» 9*, o registo de um «esgotamento da produtividade dos solos, ou, ainda, «o facto de Pavia se situar num território periférico em relação a alguns dos principais eixos civilizacionais do interior» 10*


1 Vd. Manuel Calado, Leonor Rocha E Pedro Alvim (coord.s), “O Tempo das Pedras”, ed. Da Câmara Municipal de Mora, Mora, 2012, pp.12-13. Sobre os trabalhos de Vergílio Correia vd. Vergílio Correia, “El Neolítico de Pavia”, fac-simile da edição de 1921, ed.s Colibri, Lisboa, 1999.2 Leonor Maria Pereira Rocha, “Povoamento Megalítico de Pavia”, ed. Da Câmara Municipal de Mora, Mora, 1998, p.25.
3 Idem, p.28; 4 Ibidem, p.35;
5 Ibidem, p.65.
6 Ibidem, p22.
7 Ibidem, p. 89.
8 Ibidem, p. 83.
9 Ibidem, p. 92.
10 Ibidem, p. 108.
 Prof. Joaquim Lagartixa